Parte do elenco de "Pablo e Luisão" com a família real de Paulo Vieira - Leo Rosário/TV Globo

O povo na TV

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Quando a gente diz que precisa de mais gente preta escrevendo, roteirizando e produzindo não é apenas um recorte racial, mas também social. Uma obra mainstream que não sabe conversar com o povo de maneira simples, direta e honesta, cai. “Pablo e Luisão”, série criada peo ator e comediante Paulo Vieira para a Globoplay, é exemplo de histórias do povo criadas pelo povo.

A série nasceu quando Paulo começou a contar as histórias envolvendo Luisão, seu pai, e Pablo, melhor amigo de Luisão, no Twitter. As histórias são surreais e fizeram muito sucesso na rede.

O grande problema de muitos programas que falam sobre o povo na TV é que eles são criados em realidades muito diferentes. Aí vem a pobreza romantizada ou distorcida, inverossímil. Em “Pablo e Luisão”, não. As histórias são reais, da família de Paulo e, claro, ganham alguns contornos nas mãos de ótimos roteiristas. O próprio Paulo narra as histórias e brinca com algumas dessas invenções – mas sempre deixando claro que as histórias são reais.

“Pablo e Luisão” é uma espécie de “O Auto da Compadecida” atualizado. João Grilo e Chicó, aqui, são dois caras um que se viram pra sobreviver, ganhar mais algum e ter uma vida um pouco menos sofrida. Aí vem uma sequência de enrascadas, quedas em golpes financeiros e confusões realmente surreais.

E não é apenas uma série cômica. Tem muita sensibilidade. Dá pra sentir o carinho que Paulo tem ao contar a história da sua própria família, ao mesmo tempo em que presta uma homenagem à amizade – não só a dos dois. Acho que dá pra se identificar ao lembrar de alguma enrascada que você já tenha se metido por causa de algum amigo – ou que você mesmo tenha colocado alguém. São aqueles momentos em que a gente se coloca só quando confia muito em alguém. E a chance de dar ruim ou bom é sempre de 50%.

A série vai te envolvendo e, quando você percebe, já está chorando com eles nos momentos difíceis. O riso já veio, foi mais fácil, desde lá do primeiro episódio.

Ailton Graça e Otávio Muller vivem Luisão e Pablo, Dira Paes é Conceição (mãe) e Yves Miguel e João Pedro Martins vivem Paulo Vieira e seu irmão, Neto. Aliás, Neto preparou todo o elenco passando pra eles os trejeitos da família. Uma das primeiras atividades, ainda na pré-produção, foi uma “oficina de coxinhas”. Já que a família de Paulo tinham uma pequena fábrica caseira de salgados, Paulo, Neto e parte do elenco se reuniram para fazer coxinhas. Tem verdade nas atuações também.

A TV precisa aprender muito sobre lugar de fala. Não só do jeito acadêmico ou panfletário. Mas do jeito que abre espaço pras pessoas contarem suas próprias histórias. Viu como funciona?

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