Noticiar suicídio não pode. Homicídio, com detalhes, pode

Existe uma regra silenciosa no jornalismo, especialmente o diário: é proibido noticiar suicídios. Você não vai ler em nenhum jornal sobre aquele sujeito que se jogou na linha do Metrô e atrasou a sua ida ao trabalho. Muito menos sobre a moça que se jogou do Viaduto do Chá. O argumento é: esse tipo de notícia seria um gatilho para quem está propenso a cometer suicídio. É a mesma coisa que dizer que jogos violentos no videogame incitam comportamentos violentos… enfim.

Se suicídio não pode, homicídio, pelo contrário. Canais de TV como a Record e a Bandeirantes conseguem ocupar horas da sua programação diária com o tal “caso Bruno”. As mesmas informações são passadas, repassadas e repetidas até a exaustão. E o problema: eles não se cansam. Informações de uma investigação que deveria ser sigilosa ganham até narrações que reconstituem um fato que nem se sabe ainda como aconteceu. No cenário: amigos do goleiro, cachorros, tortura, concreto e cimento.

Os detalhes, retirados de depoimentos, são fortes, sórdidos e cruéis. Dignos de filmes como Jogos Mortais e outros do gênero. E estão na TV e nos jornais, para quem quiser ver ou ler. E não valeria aqui a mesma regra silenciosa citada no início do texto? Porque se um suicídio noticiado pode levar outras pessoas ao mesmo ato, um homicídio detalhado e explicado passo a passo também poderia? Por que os dois pesos e duas medidas?

Cabe a imprensa dosar esse tipo de informação. E cabe ao telespectador/leitor praticar a censura da baixa audiência. Um programa sanguinolento que não tem audiência, não dura.