Ensinando o Padre Nosso ao vigário. Ou o caminho ao taxista

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Caro taxista.

Você é meu amigo. Você me leva e me traz nas madrugadas, quando não tem mais ônibus e a rua está muito escura para ficar a pé.

Você sabe de tudo. Assim como o porteiro do meu prédio, conversa sobre qualquer coisa. Às vezes tem opiniões meio estranhas, mas as defende com bons argumentos. OK, às vezes os argumentos não são tão bons assim. Mas vale pelo esforço.

Mas a nossa relação de amizade está estremecida. Mais precisamente, desde sábado. Já havia acontecido outras vezes, mas eu deixei passar. Só que dessa vez não teve jeito. Bateu forte quando eu entrei no seu carro e você perguntou “qual o caminho que cê quer fazer?”.

Não, taxista amigo. O senhor dos caminhos, o conhecedor dos atalhos, o entendido de trânsito… tudo isso é você. Quando eu entro no seu carro, eu quero me preocupar com qualquer coisa, menos com o caminho.

Mas tudo bem. Eu abstraí. Respondi e tudo bem. Nossa amizade é maior que isso.

No meio do caminho, o trânsito ruim. E aí vem o último golpe, desferido por você sem dó: “Eu tinha um caminho melhor, mas cê quis esse…”!

Nesse momento, imaginei um cirurgião que pergunta ao paciente sobre onde é melhor fazer a incisão. Praticamente vi na minha frente um engenheiro perguntando para o pedreiro onde é melhor instalar a viga. O especialista perguntando para o leigo.

Esse é um aviso de amigo, de verdade. Confie mais no seu trabalho, no seu conhecimento. Se você sabe um caminho legal, bacana, rápido, me diga, pode se abrir. Isso não é nenhum segredo industrial. Se ainda fosse a fórmula da Coca-Cola, eu te daria razão. Mas não. É apenas um serviço que você está prestando para um amigo… e cliente.

E fica um aviso: da próxima vez em que eu ouvir essa pergunta, terei duas opções: responder mal ou sair do seu carro. Aí acaba a nossa amizade.

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