Ah, é dinheiro público? Dane-se

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As grandes empresas, em todo o mundo, estão enxugando as suas estruturas. Fazem isso por meio de demissões, mudanças no organograma ou a dispensa de imóveis e veículos que estejam sobrando na organização.

Temos acompanhado isso aqui no Brasil, especialmente em grandes grupos de comunicação. E, infelizmente, por aqui se decide pela solução mais fácil: demissão. Mas isso é assunto para outro post.

Mas enquanto a iniciativa privada busca essas soluções para continuar sobrevivendo num mercado cada vez mais apertado, os gastos dos serviços públicos continuam nas alturas. Prova disso é a decisão tomada pelo governador Geraldo Alckmin: numa simples passada de caneta, ele livrou R$ 129,5 milhões do orçamento estadual somente em 2013. Cortou a frota de veículos (10% dos alugados, que serão devolvidos, e outros 10% próprios, que serão vendidos), helicóptero, contas de água, luz e celulares e renegociação de contratos.

E são nesses contratos que a festa acontece. Falando aqui de uma área específica, que acompanho mais de perto: a artística.

O cachê de um artista é algo abstrato. Ali não estão somente os seus gastos, mas também o valor da sua obra, algo mais abstrato ainda. Quando se fala de um evento privado, fechado, ainda se leva em consideração o poder que aquele artista tem de levar público pagante ou não. E quando é um evento público, gratuito?

Hoje funciona assim: “Ah, é dinheiro público? Dane-se. Sobe o cachê”, defende o empresário. Podemos olhar só um exemplo entre os cachês da última Virada Cultural realizada neste ano pela prefeitura de São Paulo.

Uma banda inexpressiva como o Vanguart cobrou R$ 29,5 mil pelo show, enquanto outras bandas do mesmo porte e relevância tiveram valores entre R$ 4 mil e R$ 10 mil. Os integrantes da banda moram em São Paulo, no centro, o que não justificaria altos gastos de transporte ou hospedagens dentro desse valor.

A única coisa que explica isso é o descaso com o dinheiro público, por parte da banda, do empresário e da pessoa que representou a prefeitura de São Paulo na assinatura do contrato. É dinheiro público mesmo, pra quê se preocupar?

Porque economizar, se o orçamento do evento é milionário? O que são R$ 29,5 mil no meio de R$ 10 milhões? Será que em algum evento privado o Vanguart já ganhou tanto?

O governo estadual sai na frente apontando que, sim, os serviços públicos também precisam enxugar as suas estruturas. Ou melhor, encaminhar o montante que sobra dessas revisões para os lugares certos.

E quem usa dinheiro público para divulgar a sua arte também precisa pensar um pouco mais na hora de pôr um valor nos seus serviços. Seria no mínimo honesto cobrar o mesmo valor que se cobra em eventos fechados. Ou, quem sabe, até um pouco menos? Ok, é pedir demais…

Já pensou se esses R$ 29,5 mil da Virada Cultural tivessem ido para uma biblioteca de alguma periferia de São Paulo? Fariam a diferença.

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