A verdadeira festa da democracia (com bala no lugar de bolo)

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Foto: Tiago Queiroz - Estadão

A democracia no Brasil ainda é jovem: 28 anos – ou menos, se contarmos a primeira eleição com voto direto pós-Ditadura Militar. E, por ser jovem, ainda tem muito que aprender. Se para uma vida 28 anos já é relativamente bastante, para a história de um país é mais ou menos a fase em que o bebê começa a dar seus primeiros passos.

De dois em dois anos somos convidados, de forma obrigatória, a votar em nossos representantes. O apelido dado a esse evento, a eleição, é “festa da democracia”. Talvez pela sujeira que fique no chão no dia do pleito, não sei. Mas algum marqueteiro inventou esse nome e vira e mexe ele aparece por aí.

Mas a verdadeira festa da democracia é a que vem acontecendo nas ruas de todo o Brasil. Falo mais especificamente de São Paulo porque é onde vivo, mas há movimentos populares que ocupam as ruas reivindicando direitos espalhados em todo o país.

Destaque, claro, para o Movimento Passe Livre. Liderado por jovens da extrema esquerda, o grupo vem conseguindo a adesão de mais pessoas em cada ato realizado pela queda no preço do transporte público paulistano. Um ataque por um flanco que talvez o atual governo não esperasse.

Sim, há vandalismo. Quando se inicia um movimento desse tipo não há como ter controle da turba. Há os punks, que geralmente começam esse tipo de problema e incitam a policia, há anarquistas não necessariamente ligados ao movimento punk que, por natureza, não são lá muito chegados a uma farda, há a já citada extrema esquerda (pouco acostumada ao diálogo), há os que estão lá pela causa e, finalizando, há os que nem sabem qual é a causa. E ai é que mora a riqueza e a complexidade desse tipo de movimento. Como controlar? Não há como.

O fato é que estamos aprendendo. Inclusive a protestar. A gente não sabe protestar e faz como o cachorro correndo atrás do carro: quando alcança não sabe muito bem o que fazer com ele. Num protesto desse tipo, precisamos saber exatamente quais as consequências para determinados atos e que, havendo dano ao patrimônio público, o dinheiro para os reparos sai do mesmo bolso que saem os R$ 3,20.

E quem serve e protege também precisa aprender. Depois de tantos anos combatendo guerrilheiros, a polícia usa a mesma tática contra a população que luta pelos seus direitos. E, nesse momento, o preço do transporte público se transforma em apenas mais uma causa. Quando o policial do Batalhão de Choque grita VEM PRA CIMA, FDP é a deixa para quem já está ali predisposto a incitar a violência apenas dar o start. O que vem depois é mais violência, especialmente do lado que tem mais armas.

Se todo aprendizado é um pouco sofrido, estamos no caminho certo. O que resta agora é que o movimento ganhe, de vez, adesão popular e encha as ruas quantos dias forem necessários até que os governantes percebam que não é só nas eleições em que o povo quer falar. Há outras festas da democracia, muito maiores e para as quais os dirigentes não foram sequer convidados.

Foto: Tiago Queiroz – Estadão

One comment

  1. aproveitando a deixa dos 28 anos de democracia, uma das coisas que mais me irrita é ver tanta gente apoiando a ação policial nessas manifestações. nem 30 anos depois dos abusos que o país viveu em uma ditadura militar, tem gente com saudade dela.
    triste retrato do país. mas bom ver que estamos melhorando. aos poucos, claro

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