A matéria nem sempre sai

Posted by

A gente só vê o trabalho do repórter quando dá certo. Claro, se ela foi para o ar ou foi publicada, é porque a pauta, com ou sem entreveros, deu certo. Mas e quando a matéria não sai? Já pensou se todos publicassem também as pautas que, por um motivo ou outro, não ganham vida?

Em abril de 2011 dei um rolê por Buenos Aires com a intenção de visitar lugares alternativos e fugir dos clichês. O resultado sairia numa revista de turismo. Acabou não rolando e o texto está aqui, natimorto, no meu computador.

Mas, antes tarde do que nunca,  resolvi colocar no ar aqui no blog.

Vale lembrar que os valores e os serviços citados não foram atualizados.

Boa viagem!

——————————————————–

Buenos Aires sem tango, sem Boca…

Quando se diz para os amigos que está prestes a ir para Buenos Aires, ainda mais pela primeira vez, chovem dicas. Mas nada foge muito do usual: comer empanadas, passear pela rua Florida, ir ao estádio do Boca Junior, o La Bombonera… mas resolvi fazer um roteiro além das dicas e conhecer o lado mais alternativo da capital portenha. E com um detalhe: sem tango! Nada contra o ritmo de Gardel, Piazzolla, Troilo e outros mestres, mas show de tango é o que mais tem por Buenos Aires. Então, apenas fugi do clichê. Nada pessoal.

Claro que como esse é um roteiro a ser seguido por você, leitor, não vou te colocar em roubadas. Jogar uma pelada com os locais em La Boca, por exemplo, não foi sequer cogitado. Embrenhar-se pela desconhecida periferia tampouco. Entrar numa Havanna? Não. Tem em São Paulo e em outras cidades do Brasil.

Cerveceros

Cerveceros

Nós, brasileiros, achamos que somos os apaixonados pelo futebol, que somos os que mais lotam os estádios… ledo engano. Cheguei a essa conclusão pessoalmente, quando fui assistir à partida de Quilmes e River Plate, no estádio próximo ao da cervejaria que leva o mesmo nome do time. Quilmes era o último colocado da tabela, com nenhuma vitória, dois empates e cinco derrotas. River Plate, o contrário: segundo colocado, ameaçando o líder Estudiantes. Fosse um jogo do campeonato paulista, a torcida visitante teria um pequeno espaço e este ficaria quase vazio. A local, num espaço maior, compareceria timidamente, tal qual a campanha do time. Mas não. O público da partida, realizada num sol de seus 28, 29 graus, foi de 22 mil pessoas. Sendo estas,3/4 de “cerveceros”, como são conhecidos os torcedores do Quilmes. O pequeno estádio estava quase lotado. E mais surpreendente ainda era a torcida do River, que ocupava um terço das arquibancadas e ganhava em barulho e entusiasmo da local.

O jogo foi bastante morno em seu primeiro tempo, com exceção da jogada que deu o gol ao River (sim, os cerveceros perderam por um a zero): uma jogada fulminante que durou um minuto e quatorze segundos, saindo do pé do goleiro e passando por todos os jogadores – sendo que os seis últimos toques foram de primeira. No segundo tempo, o Quilmes voltou tentando ao menos empatar, mas a pressão não foi suficiente.

O estádio do Quilmes fica a cerca de 35 quilômetros do centro. De táxi, pela autopista Buenos Aires-La Plata, a corrida, de meia hora, saiu por 160 pesos, cobrados por Guillermo, taxista bonachão e torcedor do San Lorenzo que me levou até lá. Para a volta, risque o táxi das suas opções: em Quilmes, os carros azul e amarelo são raros e passam, vez ou outra, somente nas avenidas maiores. A opção é o trem. Porém, antes dele, há uma simpática caminhada de dezoito quadras (sim, dezoito!) até a estação de Quilmes. A avenida Vicente López, onde fica o estádio, é bastante arborizada e, aparentemente, segura. E os cerveceros, mesmo após a derrota do seu time – e, lembre-se, ainda o último colocado da tabela – saíram pela avenida cantando.

O único ponto negativo fica por conta do esquema de policiamento dos estádios argentinos, que prioriza a saída da torcida visitante. Ou seja, enquanto 1/4 do estádio vai embora, os outros 3/4 ficam “presos” até meia hora depois do fim da partida. Portanto, não marque nenhum compromisso para logo depois da partida. O jeito é continuar olhando para o campo, já sem movimentação alguma, ou para o portão fechado e guardado pelos policiais. O ponto positivo: mulheres e torcedores locais pagam meia entrada (20 pesos para a geral e 40 para as cadeiras).

Almoço no clube

O Club Eros por fundado em 1941 por espanhóis, italianos e sócios de outras nacionalidades. Desde então, além de aulas de futebol e condicionamento físico, o Eros serve almoço e jantar no restaurante que fica nas suas dependências, nas esquinas das ruas Uriarte e Honduras, no bairro Palermo.

Ao entrar, se dá de cara com uma quadra de futebol de salão. À direita está o restaurante, que, nos dias cheios, distribui senhas para a ocupação das suas mesas.

O ambiente é bastante tradicional e único. No dia da visita deste repórter, uma tranqüila terça-feira, havia uma boa diversidade de clientes: de uma senhora com a neta, ainda com o uniforme do colégio San Francisco, que fica nas proximidades; funcionários da limpeza pública (havia um caminhão de lixo na porta); senhores que moram nas redondezas e conversavam sobre futebol…

Os preços são muito convidativos. Um prato de Sorrentine com molho bolonhesa sai por 15 pesos (para se ter uma referência, um almoço, por pessoa, num restaurante descolado da Recoleta sai por 70 pesos). O cardápio nem é tão vasto – são quatro tipos de massa e alguns pratos com carne –, mas o preço e o atendimento convencem.

Compras vintage

Difícil caminhar pela rua Florida sem ser parado por pessoas oferecendo duas coisas: show de tango com city tour e… compras. A rua é um grande centro de compras, especialmente de roupas de couro. Mas lá, geralmente, é praticado o “preço para turista”, mais caro. Fale para o seu bolso não se sentir atraído pelas lojas que ostentam a bandeira do Brasil na porta: é pegadinha!

Uma saída é apelar para as lojas vintage, mais conhecidas por nós como brechós. Há uma bem grande na rua Marcelo T. de Alvear,1441, a Juan Perez. É possível encontrar boas peças por preços bastante atraentes. Lá achei uma calça da Dior por 85 pesos e outra da Versace por 45, as duas em ótimo estado. Há duas quadras dali, na rua Paraguay, 1554, há também a Portobello. Menor que a Juan Perez, ela tem como diferencial alguns vinis (um de sucessos dos Beatles com os nomes das músicas grafados em espanhol estava por 40 pesos; outro, do The Platters – grafado como Los Plateros – saía por 25) e itens curiosos, como filmes infantis em rolo de filme Super 8.

O sumo do rock ‘n’ roll

A rua é escura, apesar de estar numa região central de Buenos Aires. Na fachada, não há letreiro. Apenas o número, pequeno, 1540 e uma longa escadaria. Estamos no El Living, balada portenha de rock, com preferência pelos anos 1980 e 1990.

O El Living se destaca pelos seus longos e, tais quais a rua, escuros corredores. A entrada é livre. Suba a escadaria e se depare com um ambiente com som alto (mas no ponto, dá até para conversar), sofás e um telão. Durante a visita deste repórter, também estiveram por lá Smiths, Depeche Mode, David Bowie e The Clash, todos capitaneados por um VJ, que mixava os vídeos (de apresentações ao vivo, em sua maioria) na hora. Num segundo ambiente, os sofás se repetem, mas o som chega mais baixo e não há telão.

A carta deixa a desejar no quesito cerveja: só há duas opções. Mas compensa, e muito, nos destilados, com seus quase sessenta drinques feitos com Tequila, Whisky, Gin, Vodka e outros liquidos para abrir as portas da sua percepção (sim, tocou The Doors no telão).

Endereços:

Estadio Centenario Dr. José Luis Meiszner
Av. Vicente López com Esquiú, Quilmes.

Club Eros
Uriarte, 1609, Palermo, 4832-1313

Juan Perez
Marcelo T. de Alvear,1441, Retiro, 4815-8442

Portobello Vintage Boutique
Paraguay, 1554, Retiro, 4811-2619

El Living
Marcelo T. de Alvear, 1540, Retiro, 4811-4730 / 4815-3379

Mais opções:

Sarkis – restaurante com empanadas na receita original, árabe, que leva carne de carneiro em vez de carne bovina ou frango.
Thames, 1101, Palermo, 4772-4911

The Shamrock – Pub irlandês indicado para happy hour e início da noite. O ambiente tem som bastante alto e freqüentadores que falam tão alto quanto o som.
Rodriguez Peña, 1220, Recoleta, 4812-3584

El Desnivel – bar para mochileiros e despojados na entrada de San Telmo. Aos domingos, divide a atenção com a feirinha que acontece na rua
Defensa, 855, San Telmo, 4300-9081

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *